terça-feira, 23 de outubro de 2012

Voluntárias Missionárias em Moçambique

  

Partimos a 18 de Agosto de 2012 rumo a terras Africanas, com a única certeza de que as Irmãs Franciscanas Missionarias de Maria (FMM) nos esperariam em Maputo. Desconhecíamos o local para onde iríamos em missão… Assim, não sabíamos o que nos esperava e por isso procurámos estar preparadas para todos os cenários possíveis. Levámos na bagagem material escolar, vestuário para crianças e mulheres, jogos, brinquedos e manuais que considerávamos importantes para trabalhar em diversas áreas. No coração levámos esperança, alegria, motivação e curiosidade.
Na chegada a Maputo ficámos sem parte da bagagem mas isso não nos abalou; estávamos confiantes que a mesma iria chegar nas devidas condições. O que acabou por acontecer dias depois…
Na viagem do aeroporto até a casa (FMM) fomos tendo o primeiro contacto com as pessoas e a cidade. As Irmãs souberam acolher-nos muito bem. Levaram-nos a conhecer o nosso novo lar e antes de irmos descansar até ao dia seguinte acompanharam-nos também numa refeição reconfortante. A nossa casa era modesta, muito tranquila, acolhedora e nunca nos faltou nada. Em Maputo soubemos que iríamos para Manga (Beira) mas… só daí a uma semana...
Aquando a estadia em Maputo deparámo-nos com novas realidades, que não nos eram familiares, do ponto de vista urbano, demográfico e social. Encontrámos uma cidade cheia de edifícios, ruas e avenidas, bem como, abundante em diferentes raças, culturas e religiões. Jamais esqueceremos, o primeiro impacto que estas imagens tiveram em nós.
Fomos também conhecer a comunidade Namaacha e o trabalho lá desenvolvido. Ai Namaacha… ficaste em nosso coração… as crianças, as adolescentes e as Irmãs com quem partilhámos vida e afectos… que saudades… Uma realidade bem diferente da cidade de Maputo, notando-se um contraste evidente quer a nível da organização e edificação urbana, quer a nível social e demográfico.
Enquanto estivemos com as Irmãs procurámos sempre integrarmo-nos nas suas actividades, nomeadamente nos momentos de oração na casa, na eucaristia e noutras celebrações na comunidade, nas refeições e nos momentos de lazer. Nas Irmãs sentimos a alegria que é dar a vida pelos irmãos sem esperar nada em troca. Essa alegria era também manifestada e transparecida nos seus cânticos e nas suas danças. Sentimo-nos abençoadas por Deus pela experiência que estávamos a viver em Maputo. Os grandes contrastes do luxo e da pobreza, dos espaços urbanos e dos rurais, não eram nada perante a nossa vivência em comunidade.
Após um dia, cansativo mas alegre, de viagem em Machibombo chegámos à Beira, onde fomos também bem acolhidas pelas Irmãs FMM. Estávamos ansiosas por iniciar o nosso trabalho. Assim, no dia seguinte e após uma noite bem descansada fomos conhecer as obras das FMM naquela comunidade. Existe um Internato que acolhe e acompanha jovens e adolescentes do sexo feminino, um Centro de Saúde que presta cuidados nas mais diversas valências, uma Maternidade e um Centro de Nutrição.
O nosso trabalho visou essencialmente prestar apoio no Centro de Nutrição. Quando percebemos o seu modo de funcionamento, criámos um plano de intervenção com objectivo de trabalhar diversas áreas, nomeadamente, na prevenção do HIV/Sida, na formação das mães em Puericultura, nos cuidados de higiene e de saúde a terem consigo próprias, com as suas crianças e nos seus lares. Tentámos também dar continuidade ao que já se fazia, como a hora do conto, onde umas mães ensinavam as outras na leitura e também na escrita. Ao tentarmos colocar em prática o nosso plano de intervenção, constatámos que era de todo impossível criar mudanças em tão pouco tempo… Deparámo-nos com uma realidade para a qual já tínhamos reflectido em grupo antes de partirmos em missão. De facto, nós devemos ir ao ritmo do povo que nos acolhe. Não seria em três semanas que poderíamos dar ferramentas às mamãs para que depois elas conseguissem por si só dar continuidade aquando a nossa ausência. Também não haveria missionários previstos para aquela zona nos próximos tempos que o pudessem fazer. Assim, alterámos tudo e resolvemos ESTAR com as mamãs e as crianças, através de encontros em grupo, momentos de escrita e de leitura, da hora do desenho, do canto e dos jogos. Procurámos conhecer a vida de cada um, auxiliámos nos cuidados a ter na saúde e na alimentação das crianças, fomos a casa dessas famílias para também perceber como vivem e interagem com os restantes membros da família e acompanhámos algumas crianças ao Centro de Saúde.
Enquanto visitámos as casas das “nossas” famílias fomos tendo contacto com as várias realidades dos bairros por onde passávamos. Bairros que fervilham de crianças; milhares de crianças. As pessoas que encontrávamos eram de uma forma geral simpáticas e afáveis; os jovens e as crianças sorridentes pediam-nos ansiosamente para que tirássemos fotografias.
Os bairros eram habitados por uma população muito pobre, que cresce sem qualquer plano de ordenamento, de forma espontânea e sem infra-estruturas. Ruas estreitas, caminhos e vielas, com águas paradas, misturadas com lixo, onde predominam casas de caniço, pois são habitações, cujas paredes e tetos são constituídas com madeira e zinco. Muitas destas habitações, não têm acesso a água canalizada, no seu interior ou exterior. Abastecem-se essencialmente em poços ou furos, muitas das vezes sem condições mínimas de tratamento, o que agrava a situação sanitária. As condições de saneamento são muito precárias, não existe um sistema de saneamento, não possuem qualquer tipo de casa de banho, nem sequer uma latrina fora de casa (uma das características do meio rural).
E… um mês passou depressa! Tínhamos que voltar e a saudade dos “nossos” meninos, das “nossas” mamãs e das Irmãs FMM aumentava (e aumenta) de dia para dia. Chegava a hora da despedida e muitas lágrimas correram.
 Foi uma experiência que jamais esqueceremos. Sentimos que as pessoas que passaram por nós marcaram muito mais a nossa vida do que nós as marcámos. Sem dúvida que recebemos muito mais do que demos e, com toda a convicção sentimos que viemos cheios do Espírito e do Amor de Deus, manifestando-se também, no forte desejo de partilhar esse Amor com quem passa por nós. Conforme, cantamos muitas vezes: “Sou feliz, porque a vida é partilhar; mais do que receber a alegria está no dar…”
Em conversa com uma das Irmãs concluímos que fomos apenas “espreitar”.
A Deus queremos dizer “KANIMAMBO” pelo dom da vida.
(Julieta e Sofia – Leigas Voluntárias Missionárias - FMM)

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